quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O CINEMA – NOSSA HISTÓRIA (Parte Três – Expansão e Cinema Regional)

Anos 20. O Cinema brasileiro, apesar das deficiências inerentes de nosso mercado de exibição e produção,  já criou algumas bases sólidas; Claro, já lá se vão mais de duas décadas e o publico já não passa mais sem a ida regular aos cinemas. E isso pelo Brasil inteiro. Começa, então, a fase em que a produção se espalha e se regionaliza e isso proporciona o surgimento de novos nomes e de novas temáticas. Mesmo 20 anos depois a produção brasileira ressente de um maior aparato tecnológico  e se apoia no pioneirismo desses novos nomes, que se utilizam de um cinema quase artesanal para fazerem seus filmes. A falta de possibilidade em criar uma iluminação artificial em interiores, por exemplo,  leva os cineastas a criarem cenários em locais com possibilidade de aproveitamento da luz solar. Este foi o caso de José Medina, um pintor e fotógrafo paulista, que transformou o cinema em uma grande paixão. Associado ao produtor Gilberto Rossi, ele fez o clássico PERVERSIDADE(2020). Medina montou seus cenários interiores no quintal de seu estúdio e filmava aproveitando o sol do meio dia. Assim fez filmes como GIGI(1925)  e FRAGMENTOS DA VIDA(1929). Numa proposta mais ousada, no Rio de Janeiro, em 1920, a portuguesa Carmen Santos criou a empresa Films Artisticos Brasileiros; Adaptando romances considerados escandalosos para a época, ela fez filmes como A CARNE e MADEMOISELLE CINÉMA. Causou rebuliço...

Cenas de O GUARANI(1920), MADEMOISELLE CINÉMA(1925) e HEI DE VENCER(1920)
Nessa época começam a surgir as famosas revistas de cinema como Seleta, Para Todos e Cinearte, que  publicam informações  sobre astros, novos filmes e sobre cinema em geral; Como o cinema americano já dominava 90% do mercado exibidor, essas publicações divulgavam artistas nacionais como Grácia Moreno, Eva Schnoor, Lelita Rosa, Nita Ney, Eva Nil, Estela Mar, Luís Soroa, Carlos Modesto, Paulo Morano e Raul Schnoor e, melhor, essas revistas chegando aos lugares mais distantes do Brasil, influenciaram cineastas de outros estados a se aventurarem nessa nova arte.  Um destes foi Humberto Mauro(1897/1983), mineiro que começou a sua carreira em Cataguases e se tornou um dos grandes nomes, de todos os tempos,  do cinema brasileiro, inclusive, o Cinema Novo,  movimento dos anos 60, o adotou como mentor e inspiração. Ele começou com  VALADIÃO, O CRATERA(1925) e NA PRIMAVERA DA VIDA(1926) e depois fez os clássicos BRASA DORMIDA, TESOURO PERDIDO e SANGUE MINEIRO. 

Cenas de BARRO HUMANO(1928), A CARNE(1925) e A LEI DO INQUILINATO(1926)
Em outros lugares do Brasil começam a surgir novos interessados em produzir filmes.  Em Pernambuco, se destacaram dois destes empreendedores: Edson Chagas e Gentil Roiz. Roiz foi o diretor do famoso AITARÉ DA PRAIA(1925), uma história de amor entre o jangadeiro Aitaré e Cora, uma moça simples da praia. De volta a Minas Gerais, em Pouso Alegre, temos Francisco de Almeida Fleming, que depois de algumas experiências sem sucesso em documentários e curtas metragens faz PAULO E VIRGINIA(1923) que faz sucesso em Pouso Alegre e chega a ser exibido no Rio de Janeiro. Já tinha realizado IN HOC SIGNO VINCES(1922) e depois fez O VALE DOS MARTIRIOS(1924). Em Guaranésia, também Minas Gerais, Carlos Masotti, que é italiano de nascimento, produz para a direção de Eugenio C.Kerrigan o longa metragem CORAÇÕES EM SUPLICIO(1925), que foi exibido  em Guaranésia e no Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte Manuel Talon e Igino Bonfioli, realizam ENTRE AS MONTANHAS DE MINAS(1928). Igino foi um pioneiro no cinema da capital mineira. Além de documentários e filmes curtos, em 1923 realizou A CANÇÃO DA PRIMAVERA  e, já em 1931, realizou seu ultimo longa, TORMENTA.  Silvino Santos, jovem português que havia se encantado com as belezas do norte brasileiro, filma NO PAIS DAS AMAZONAS(1922), um documentário comemorando o centenário da independência brasileira e mostrando vários aspectos dessa região brasileira, e é exibido durante cinco meses em vários cinemas do Rio de Janeiro e tem exibições em Paris e Londres.

Cenas de O SEGRÊDO DO CORCUNDA(1925) e BARRO HUMANO(1928) / Cartaz de THESOURO PERDIDO(1927)
Em São Paulo, a partir dos anos 20, também surgem novos filmes e novos nomes que se interessam pela produção, tanto na capital como no interior, principalmente em cidades como Campinas, Santos e outras cidade menores. O SEGRÊDO DO CORCUNDA(1924),  dirigido por Alberto Traversa, obteve sucesso sendo exibido em todo o estado e até em algumas cidades de Minas Gerais.  Sempre lembrando que, como o mercado era praticamente dominado pela produção estrangeira, principalmente americana, a aceitação e exibição de um filme nacional sempre era uma grande vitória. Um sucesso! Realizado em Campinas, JOÃO DA MATA(1923) foi exibido, na capital e até no Rio de Janeiro, com ótima repercussão. Sem o mesmo sucesso ainda são realizados em Campinas filmes como ALMA GENTIL(1924), SOFRER PARA GOZAR(1924), A CARNE(1925) e MOCIDADE LOUCA(1927). SOFRER PARA GOZAR, foi dirigido pelo itinerante Eugenio C. Kerrigan(aquele mesmo de Guaranésia).

O Diretor E.C.Kerrigan/ Norma Santos e Eduardo Abelim em cena de O PECADO DA VAIDADE / A Atriz e Cineasta Carmen Santos/ O Jovem Humberto Mauro
No Rio Grande do Sul, surge Eduardo Abelim que filma em 1925, EM DEFESA DA IRMÃ. Abelim, um ex-chofer de praça, como eram chamados os motoristas de taxi, era um sonhador  que promovia seus filmes das mais inusitadas maneiras possíveis. Tanto que mereceu  um ótimo filme contando sua vida, SONHO SEM FIM(1986), dirigido por Eduardo Escorel.  Trabalhando em comerciais e documentários fez apenas três filmes; Além do citado acima fez CASTIGO DO ORGULHO(1927)  e O PECADO DA VAIDADE(1932). Quem reaparece no Sul é Eugênio C. Kerrigan;  Ele dirige os melodramas,  AMOR QUE REDIME(1928), que fez grande sucesso em Porto Alegre e REVELAÇÃO(1929). E foi assim, entre tropeços e sucessos, com maior ou menor destaque, que o cinema brasileiro se afirmou e conseguiu ter a cara de nossa gente. Mas o caminho ainda era longo e muitas etapas ainda a se avançar.

(Principais fontes de pesquisa, Coleção Nosso Século, publicada pela Editora Abril, em 1980,  História do Cinema Brasileiro-Edição Circulo do Livro/1987, de Fernão Ramos,  Dicionario de Filmes Brasileiros, de Antonio Leão da Silva Neto e Dicionario de Cineastas, de Rubens Ewald Filho)


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