quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O CINEMA – NOSSA HISTÓRIA (Parte Dois – Os Primeiros Filmes)

Uma das grandes possibilidades que a nova invenção trouxe, foi  levar o que acontecia no mundo e no Brasil, ao conhecimento do grande publico. E como a grande maioria das produções eram documentais isso se tornou uma constante.  Como já dito, a chegada de energia elétrica em abundancia, em 1908, proporcionou ao cinema brasileiro passar  por uma incrível febre de novas produções. Filmes de curta duração, a grande maioria eram documentários registrando paisagens e momentos urbanos. Mas, começaram já aparecer os filmes com enredo e nesses se usavam, principalmente, atores de teatro ou de circo. Mesmo porque,  se nas grandes cidades já haviam muitas salas permanentes, o resto do pais passou a conhecer essa nova arte através de circos e companhias ambulantes que perambulavam Brasil afora.

“NHÔ ANASTACIO CHEGOU DE VIAGEM”, filme de Julio Ferraz, realizado em 1908, tinha apenas 15 minutos e foi o primeiro filme com enredo realizado no Brasil; Narrava de forma engraçada as peripécias de um matuto passeando pelo Rio de Janeiro. A partir desse ano, uma grande quantidade de filmes “com enredo” começaram a  chegar as telas. Filmes americanos e europeus eram trazidos pelos exibidores e os produtores nacionais começaram a investir em filmes de maior duração. Com 40 minutos, Giuseppe Labanca produziu  OS ESTRANGULADORES, que fez enorme sucesso chegando ao numero recorde de mais de 800 exibições. O sucesso desse tipo de filme levou a outras produções similares, como A MALA SINISTRA  de Julio Ferrez, que foi baseado no famoso “crime da mala”, ocorrido em São Paulo, em 1908.
 
BENJAMIN OLIVEIRA, um dos primeiros astros de Cinema. O CINEMATOGRAPHO RIO BRANCO, exibindo o grande sucesso PAZ & AMOR e ao lado o cartaz do filme cantante. A ultima foto é na Cinelândia Carioca e os círculos assinalam dois grandes exibidores, Luiz Severiano Ribeiro e Francisco Serrador.
O sucesso desses filmes faziam do cinema uma mania e um programa regular do publico. Os jornais passaram a ter sessões destinadas aos filmes programados e expressões ligadas a essa nova arte tornaram-se comuns entre a população. Sim, porque uma das grandes vantagens do cinema era seu apelo popular, atingindo todas as faixas do povo. Mas a grande produção nacional de filmes era quase toda concentrada no Rio de Janeiro( o maior estúdio da época era o Guanabara Film). Já no final dessa sua primeira década começou no Brasil, a se combinar as imagens com sons de um gramofone ou com musicas executadas em um piano. Isso já era feito nos EUA e Europa.  Surgiram por aqui, então, os “filmes cantantes”, uma novidade onde os atores se escondiam atrás da tela e acompanhavam com a voz os movimentos de falas de personagens. Isso fez com que operetas como A VIÚVA ALEGRE, A GEISHA, A DANÇARINA DESCALÇA e SONHO DE VALSA, alcançassem um enorme sucesso. Outros sucessos no gênero, foram sátiras , especialmente politicas, como O VIÚVO ALEGRE, O CHANTECLER, O COMETA e 606 CONTRA O ESPIROQUETA PÁLIDO.

Mas o maior de todos os sucessos no genêro foi PAZ E AMOR(1910), que teve um total de mais de mil exibições; Isto porque era uma sátira politica, envolvendo vários nomes proeminentes da época, principalmente o recém eleito Presidente Nilo Peçanha, que prometera um governo de “paz e amor”. Exibido no Cinematographo Rio Branco, do Rio,  as vezes era preciso a intervenção da policia dado ao grande afluxo de publico. Mas também já funcionavam, regularmente no Rio de Janeiro, outros cinematographos: o Pathé, Avenida e Odeon. Como já chegavam por aqui as  grandes produções da Europa e América, atores  estrangeiros como Francesca Bertini, Nielsen, Psilander e Maurice Costello, começam  a se destacar na preferencia popular, onde também se destacam os nacionais Benjamin de Oliveira, Mercedes Villa, Sonia Veiga e Regina Fuina .
 
Alguns dos primeiros filmes com enredo: HEITOR ÉUM RAPAZ SÉRIO, FLOR DE CALÇADA, A TRÁGEDIA DE BELGRADO e A MÃO NEGRA
No entanto se a partir de 1908, nunca se havia produzido tantos filmes no Brasil, a partir de 1912 essa produção caiu drasticamente e até por volta de 1922, a média de filmes por ano caiu para cerca de 12 filmes. O que aconteceu?  Em São Paulo, onde a grande maioria dos filmes exibidos eram os feitos no Rio, o empresário Francisco Serrador, resolve  estender seus pontos de exibição ao Rio de Janeiro e ao resto do pais e 1911 funda a Cia. Cinematográfica Brasileira, que não tinha a produção nacional como seu principal objetivo, mas sim a importação de filmes, visto que fora do Brasil, onde o cinema havia já alcançado um nível industrial/cultural/tecnológico infinitamente acima do que se fazia no Brasil. A Empresa compra então salas de exibição em todo o pais com fins de organizar o caótico mercado exibidor nacional. E isso dá muito certo, porque  além de importar filmes para exibição em suas salas, ainda reloca os mesmos filmes para outras salas. Proprietário da maioria das salas e exibindo apenas o produto importado, isso  prejudica enormemente a produção nacional. Em um primeiro momento, o publico reage desfavoravelmente, mas a magia dessa nova arte, cativa a publico, que em pouco tempo passa a conhecer e admirar os novos astros de cinema que surgiam lá fora.

Mas, apesar de pequena, a produção nacional não estagnou. Em 1914, foi exibido o primeiro filme com mais de duas horas de duração produzido no país, intitulado  O CRIME DOS BANHADOS, do diretor português Francisco Santos, confirmando o sucesso da moda dos filmes policiais, que teria ainda títulos como O CASO DOS CAIXOTES(1912) e  O CRIME DE PAULA MATOS(1913). Em 1915, o cineasta Antonio Leal, construiu um estúdio envidraçado(para aproveitar a luz solar) e produziu ali filmes como A MORENINHA(1915) e LUCÍOLA(1916), baseados em grandes obras da literatura nacional, iniciando a moda dos filmes literários, como O CAÇADOR DE ESMERALDAS(Olavo Bilac)  e OS MISTÉRIOS DO RIO DE JANEIRO(Coelho Neto). A 1ª Guerra Mundial, em curso, foi ensejo para a produção de filmes relacionados,  como PÁTRIA E BANDEIRA, LE FILM DU DIABLE e o primeiro desenho animado brasileiro, O KAISER, do caricaturista Seth. Em 1912, talvez um primeiro ato de censura no cinema brasileiro; A marinha impediu a exibição de um filme contando a história de João Candido, o “almirante negro”, líder da chamada Revolta da Chibata, acontecida em 1910.

(Principal fonte de pesquisa, Coleção Nosso Século, publicada pela Editora Abril, em 1980 e História do Cinema Brasileiro-Edição Circulo do Livro/1987, de Fernão Ramos)

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