sexta-feira, 31 de maio de 2019

VERA CRUZ, UM SONHO NACIONAL

Final da primeira metade do século, depois da Segunda Grande Guerra e o cenário artístico de São Paulo era efervescente graças, principalmente,  a atuação de homens como Francisco Matarazzo Sobrinho, mais conhecido como Cecillo, e Franco Zampari, o criador do mítico TBC (Teatro Brasileiro de Comédia). Francisco, o Cecillo , foi o criador e idealizador do MAM(Museu de Arte Moderna de São Paulo). Mas esses dois viveram um sonho maior. Eles queriam criar uma Hollywood  brasileira. Eles queriam fazer cinema em escala industrial, com qualidade internacional. E desse sonho nasceu a Cia. Cinematográfica Vera Cruz 

Estudios Vera Cruz / O Diretor Adolfo Celi, que veio do TBC / O Cineasta Alberto Cavalcanti, primeiro executivo da Vera Cruz
Inaugurada em 04/11/1949, com um capital de 7,5 milhões de cruzeiros, um gigantesco estúdio foi erguido numa imensa área verde de São Bernardo do Campo(SP), que cobria 101 mil metros quadrados e com 25 mil metros quadrados de edificações. Eram seis palcos de filmagens, oficinas mecânicas, carpintaria,  apartamentos residenciais, frotas de automóveis,  uma grande cidade cenográfica para filmagens de exteriores e um laboratório fotográfico capaz de processar 700 cópias por dia.  Tecnicamente importou-se o que havia de melhor para captação de imagens: Quatro câmaras Mitchell, uma Cameflex, uma Arriflex, uma Yemo e uma Neval.

Filmes da Vera Cruz
Para dirigir essa empresa, Zampari chamou Alberto Cavalcanti, cineasta brasileiro que gozava de um grande prestigio internacional na época. Com essa enormidade de recursos, Cavalcanti contratou técnicos ingleses e italianos, os melhores diretores brasileiros na época e um grande elenco nacional. Os galãs da Vera Cruz recebiam 35 mil cruzeiros mensais, as estrelas, 18 mil cruzeiros e o celebrado fotografo  Chick Fowle, 42 mil por mês. O primeiro filme da empresa foi CAIÇARA, dirigida pelo italiano Adolfo Celi, oriundo do TBC, uma produção conturbada e cheia de contratempos, cuja as filmagens, realizadas em Ilha Bela,  demoraram cerca de seis meses. Já em 1951, Cavalcanti deixaria a Vera Cruz, sendo substituído por Fernando de Barros, que vinha do cinema carioca.


Em 1954, depois de 18 filmes de ficção e mais 4 documentários, a Vera Cruz, graças a dividas enormes e uma  administração incompetente, abriu falência e encerrou suas atividades. A maioria de seus filmes deu prejuízo. Ironicamente, um filme que Zampari não queria fazer, O CANGACEIRO(1953)  de Lima Barreto, foi de todos os filmes da Vera Cruz, o que deu mais dinheiro. Rendeu milhões mundo afora. Mas a Vera Cruz não se aproveitou disso. Ela havia vendido antecipadamente os direitos do filme para a norte americana, Columbia. Os enormes estúdios foram assumidos pelo Banco do Estado de São Paulo, principal credor, e ainda funcionaram durante muitos anos, com muitos filmes sendo realizados ali.

 
A Vera Cruz deixou uma marca indelével no contexto cinematográfico brasileiro. E se não houve um retorno financeiro, a qualidade de seus filmes elevou o cinema brasileiro a um nível internacional. A geração de diretores, atores e técnicos que trabalharam na Vera Cruz, ficarão marcados pelo elevado nível artístico  que empresa exigia de seus funcionários. Sua experiência frustrada no mercado de distribuição e retorno de recursos, abriu os olhos das novas produtoras e produtores, que surgiriam dali em diante, para as armadilhas desse mercado. E se nada disso conta, é bom lembrar que foi da Vera Cruz que surgiu um dos nossos maiores campeões de bilheteria de todos os tempos, o inesquecível brejeiro caipira Mazzaroppi.

Os Filmes da Vera Cruz:
1950-CAIÇARA-Direção Adolfo Celi. Com Eliane Lage
1951-TERRA SEMPRE TERRA-Direção Tom Payne Com Marisa Prado e Mário Sérgio
1951-ANGELA-Direção Tom Payne Com Eliane Lage e Alberto Ruschell
1952-APASSIONATA-Direção Fernando de Barros Com Tonia Carrero e Anselmo Duarte
1952-SAI DA FRENTE-Direção Abilio Pereira de Almeida Com Mazzaroppi
1952-TICO TICO NO FUBÁ-Direção Adolfo Celi Com Tonia Carrero, Anselmo Duarte e Marisa Prado
1952-VENENO-Direção Gianni Pons Com Lenora Amar e Anselmo Duarte
1953-UMA PULGA NA BALANÇA-Direção Luciano Salce Com Waldemar Ney
1953-FLORADAS NA SERRA-Direção Luciano Salce Com Jardel Filho e Cacilda Becker
1953-SINHÁ MOÇA-Direção Luciano Salce Com Eliane Lage e Anselmo Duarte
1953-O CANGACEIRO-Direção Lima Barreto Com Alberto Ruschell e Marisa Prado
1953-ESQUINA DA ILUSÃO-Direção Ruggero Jacobi Com Alberto Ruschell  
1953-A FAMILIA LERO LERO-Direção Alberto Pieralisi  Com Walther D’Avila
1953-LUZ APAGADA-Direção Carlos Thiré Com Mário Sérgio
1953-NADANDO EM DINHEIRO-Direção Carlos Thiré Com Mazzaroppi
1954-É PROIBIDO BEIJAR-Direção Ugo Lombardi Com Tonia Carrero e Mário Sérgio
1954-CANDINHO-Direção Abilio Pereira de Almeida Com Mazzaroppi
1954-NA SENDA DO CRIME-Direção de Flaminio B.Cerri Com Cleyde Yaconis e Miro Cerni

E ainda os documentários: PAINEL(1950/De Lima Barreto), SANTUARIO(1950/De Lima Barreto),
OBRAS NOSSAS(1953) e SÃO PAULO EM FESTA(1954/De Lima Barreto).

PS. Consta de alguns relatos que Vera Cruz teve participação na produção do filme O AMERICANO(The Americano/1955). Segundo o informativo Cine Repórter, Julho de 1953, esses contatos realmente aconteceram, sendo inclusive firmado um contrato com o produtor Robert Stillman, que rezava que a Vera Cruz seria co-produtora do filme e que esse filme seria filmado em inglês e português, a partir de um roteiro previamente aprovado pela produtora brasileira. Mas o produtor americano não cumpriu esse contrato (não apresentou o roteiro pronto e nem quis a versão em português do filme), assim sendo a Vera Cruz considerou encerrado  o contrato e não teve participação no filme.

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