quarta-feira, 12 de junho de 2019

WALTER FIELD, O Homem dos 2 Mil Filmes.

Pesquisando filmes e gente que faz filmes, as vezes nos deparamos com noticias inusitadas. A alguns anos (quer dizer, bastante anos) atrás me deparei com a noticia em um jornal qualquer(não me lembro qual) sobre a morte de um ator chamado Walter Field. Ele morreu no 05 de Junho de 1976. O que chamou me chamou atenção na noticia, não foi a idade que ele tinha ao morrer, ele morreu com 101 anos, e era o ator americano mais velho até então; O que me chamou mais atenção foi a informação de que ele tinha participado de mais de 2.000 filmes.

Esse registro estava datilografado em um canto qualquer de meus arquivos e segundo ele Walter Field,  havia participado de filmes como BORN TO FIGHT(1936), DUAS ALMAS SE ENCONTRAM(1935) e TOO HOT  TO HANDLE(1950) e seu ultimo trabalho foi na TV, em um episódio da série MEDICAL CENTER(1969-1976).

Partindo para uma pesquisa mais acurada, não descobri registros dele  em nenhum lugar, nem mesmo no IMDB, mas descobri a fonte noticiosa que registrou a morte deste desconhecido ator. A noticia saiu no New York Times, na edição de 9 de Junho de 1976 (conforme o link que deixo abaixo) e na mesma nota, encontrei a explicação para a enorme quantidade de filmes em que participou: ele era um extra, um figurante. Extras ou figurantes são aqueles “atores” que não tem participação ativa no roteiro do filme; Eles apenas compõe o cenário, fazem parte de multidões, transeuntes nas ruas, os soldados que morrem nas batalhas, os índios que atacam a caravana, etc... etc...

Isto pode ser deduzido porque, segundo a noticia, o fato foi comprovado pelo SEG ou melhor o THE SCREEN EXTRAS GUILD. O SEG, foi uma entidade classista americana  que congregava todas aqueles que se encaixavam na categoria de EXTRAS ou FIGURANTES  e funcionou de 1942 a 1992. A partir de 1992, o SAG-Screen Actors Guild, que é o poderoso sindicato dos atores americanos, assumiu o SEG e os interesses da classe que ela representava.

O link da noticia publicada no New York Times:
https://www.nytimes.com/1976/06/09/archives/walter-field-101-dies-acted-in-2000-films.html

terça-feira, 11 de junho de 2019

CINEMATECA FRANCESA

Henri Langlois, o fundador da Cinemateca Francesa. O prédio onde hoje funciona e aspectos interiores, mostrando uma sala de projeção, museu e biblioteca.
Com seus mais de quarenta mil filmes, milhares de documentos e objetos relacionados  a cinema, a Cinemateca Francesa é um patrimônio mundial no que se refere ao mundo do cinema. Dedica-se, principalmente, a preservação e  restauração de filmes, constituindo-se uma das maiores bases de dados, vindos de todo o mundo, no que se refere a arte cinematográfica.

Fundadores do Cineclube Cercle du Cinéma, Henri Langlois e Georges Franju, tinham por objetivo recuperar, salvar e divulgar filmes antigos, que naquela época se perdiam muito rapidamente. Muito bem sucedido nesse trabalho, Henri Langlois recebeu a missão de criar a Cinemateque Française ou CINEMATECA FRANCESA. Uma entidade privada financiada por doadores particulares, que com o tempo passou a contar com ajuda estatal, pela grandiosidade de seus objetivos. Em 1947, a cinemateca ganhou um prédio de três andares, em Paris, que se transformou  em ponto de encontro de nomes como François Truffaut, Jean Luc Godard, Jacques Rivette e Eric Rohmer.

Em 1955, nova mudança, com ampliação da sala de projeção . Em 1963, sempre visando a ampliação do espaço, mais uma mudança com maior apoio estatal, graças ao Ministro da Cultura francês, André Malraux. Em 1968, acompanhando a grande movimentação social que se estabeleceu nesse ano, o governo francês exigiu uma mudança de gestão na entidade e foi formado um comitê de cineastas, que reintegraram Henri Langlois a direção da Cinemateca. Mostrando a grande importância da cinemateca, até mesmo cineastas como Stanley Kubrick e Charlie Chaplin, participaram deste processo.

A grande importância de Henri Langlois, dentro da indústria, ficou comprovada quando em 1974, ele teve sua carreira premiada com um Oscar Honorário e depois  um César, que é o maior prêmio do cinema francês.  Mas em 1977, após a morte de Langlois, a Cinemateca passou por um período de dificuldades financeiras, chegando inclusive, a ser ameaçada de perder parte de seu acervo. O socorro veio com o Ministro da Cultura francês da época, Jack Lang, que aumentou de seis para 14 milhões de francos,  as verbas destinadas a instituição, que passou, então,  a partir de 1981, a ser presidida pelo cineasta Constantin Costa Gravas. Houve uma dinamização nos projetos a partir daí com a construção de uma nova sede, que reuniu em um só lugar todos os setores (salas de projeção, biblioteca, fototeca, museu)  da entidade. Houve também uma abertura a participação de outros países.

Outras mudanças ocorreram, inclusive a partir de um incêndio ocorrido em 1977, mas a Cinemateca Francesa manteve-se firme em seus propósitos se adaptando, inclusive, as novas formas de exibição e preservação.  Aberta hoje ao grande publico, oferece aos visitantes mostras de filmes, museu com objetos cinematográficos, biblioteca e exposições dedicadas a grandes nomes do cinema. Um grande espaço da Sétima Arte, que através de seus mais de 80 anos , se transformou em um patrimônio cultural e artístico do cinema mundial.

sábado, 8 de junho de 2019

TRASH MOVIES: JOHN WATERS E Cia.

John Waters e trash-movies  são sinônimos. Waters, hoje com mais de 70 anos, principalmente numa primeira fase de sua carreira, fez filmes em que o mau gosto se generalizava de uma maneira extrema e repulsiva. Com isso ele elevou  o termo ‘trash-movie’ a seu potencial máximo. Mesmo porque, em certo momento da história cinematográfica contemporânea, o que era caracterizado por esse termo eram filmes ruins. Literalmente pobres tecnicamente e absolutamente medíocres artisticamente. Toda essa ruindade levou a alguns desses filmes e cineastas a serem idolatrados por uma parcela do público e aí seus filmes se tornaram ‘cult-movies’. Paradoxo? Acho que não. ‘Cult Movie’ é uma terminologia que pode identificar filmes dos genêros mais variados e que são cultuados por um públicos específico. 

Edward D. Wood Jr. e duas de suas obras primas: PLANO 9 DO ESPAÇO SIDERAL e GLEN OR GLENDA. Também duas pérolas de ouro da ficção nos anos 50: ROBOT MONSTER e MUNDOS QUE SE CHOCAM, onde se dá prá notar que os olhos do ET, eram duas bolas de ping pong pintadas(?)....


Ed Wood, que é considerado o pior cineasta de todos os tempos, também é autor de alguns dos maiores trash-movies da história. Isso é claro, considerando a terminologia aplicada aos maus feitos. Seu PLANO 9 DO ESPAÇO SIDERAL  é considerado o pior filme de todos tempos. Financiado por uma igreja, em troca da conversão dos técnicos e atores, era estrelado por um ultra decadente Bela Lugosi, que morreu em meio as filmagens. Sem se abalar, o diretor Ed Wood, o substituiu pelo seu pedicure(em alguns relatos seu dentista), vestindo-o com uma capa negra o resto do filme. É hilário ver pratos pendurados em cordas representando os discos voadores. Fica a indagação: será que Ed Wood, transexual, alcóolatra  e ateu confesso, se converteu para cumprir seu contrato? GLEN OR GLENDA(1953)  e A NOIVA DO MONSTRO(1955), são outras pérolas de suas filmografia.

O ATAQUE DOS TOMATES ASSASSINOS, TOXIC AVENGER, SURFISTAS NAZISTAS TEM DE MORRER, A CENTOPEIA HUMANA  e RUBBER-O PNEU ASSASSINO, mantendo a tradição da ruindade.
Nos anos 50 e 60, a ficção cientifica foi a bola da vez dos trash-movies. Filmes como ROBOT MONSTER/1953 e  MUNDOS QUE SE CHOCAM/1954, além do já citado PLAN 9, são exemplos máximos disso. E essa corrente foi se alastrando através de anos e anos de filmes ruins (ou bons de tão ruins?) . Basta dar uma olhada superficial através da produção mundial de filmes,  que dá prá selecionar filmes como ATAQUE DOS TOMATES ASSASSINOS(1978), THE TOXIC AVENGER(1986),  SURFISTAS NAZISTAS DEVEM MORRER(1987), A CENTOPEIA HUMANA(2009) e até RUBBER-O PNEU ASSASSINO(2010). Mas são apenas algumas citações;  Como  estes existem centenas.


Provando que o que é ruim sempre tem seu espaço, vejá só essas duas séries. E olha que cada uma delas tem mais três exemplares.
Atualmente com a popularização da tecnologia de efeitos via computador, todos os níveis do ridículo foram ultrapassados.  Já tem O ATAQUE DO TUBARÃO DE DUAS CABEÇAS(2012) com extensões para 3, 4, 5 e 6 cabeças. E O SHARKNADO(2013)? Já está na sexta sequencia. Os tubarões que se misturam a tornados, já atacaram até no Velho Oeste(?). Mas não são só tubarões. Vários outros animais como cobras, crocodilos, ratos, ganharam suas atrocidades. Pois é,  e uma característica marcante destes filmes é que eles sempre dão vazão a sequencias; Praticamente todos desses filmes acima citados tiveram sequencias, porque tem publico para vê-los. Uma das explicações mais relevantes é que esses filmes não se levam a sério; São feitos propositalmente para chamar atenção por sua ruindade e pegam o publico pelo humor. O publico se diverte com a história artisticamente  mal contada e com os (d)efeitos especiais (mal) usados.

John Waters e alguns de seus "filhotes", todos estrelados por Divine. MONDO TRASHO, PROBLEMAS FEMININOS, POLYESTER e PINK FLAMINGOS.
Aqui voltamos a John Waters, o rei dos trash-movies. Os filmes-lixo  de Waters, pendem para o mau gosto extremo. Nada de ficção, mas subversão total dos costumes.  A sua corrente trash teve alguns outros representantes como Andy Warhol(BAD/1977) e Paul Morissey (FLESH/1969, TRASH/1970 e HEAT/1972), mas Waters superou a todos. Descobridor da travesti  obesa Divine(1945-1988), foi com ela que cometeu suas maiores perversões fílmicas. Em filmes como MONDO TRASHO(1969), PINK FLAMINGOS/1972 e PROBLEMAS FEMININOS/1974, Divine comeu(sem truques) fezes, foi estuprada por uma lagosta gigante e expôs, em close, seu ânus. POLYESTER(1981), por exemplo, foi filmado num processo chamado Odorama;  O espectador recebia na entrada do cinema uma cartela, onde através dos números na tela ele cheirava na cartela todos os odores  que os personagens do filme sentiam... a maioria deles bem desagradáveis. Mas, a partir deste filme, Waters amenizou seu discurso transgressor e passou a ter um relacionamento mais leve com o mercado.

Trash-Movies, filmes lixo, cinema porcaria... a parte mais pobre da arte cinematográfica. Mas tem seu público. Por isso está em cartaz, a tanto tempo.

terça-feira, 4 de junho de 2019

FIVE LOST HITCHCOCKS

Pouco se falou disso, mas por mais de 20 anos, o diretor Alfred Hitchcock(1899-1980) “escondeu” do público cinco de seus melhores filmes. Ele impediu seu relançamento nos cinemas e sua exibição na televisão. Estes filmes ficaram conhecidos como  "Five Lost Hitchcocks". Ele nunca deu uma razão exata para isso. Segundo informações de pessoas próximas, não contente com as versões apresentadas no lançamento nos cinemas, ele pretendia reeditar esses filmes para um possível relançamento. Relata-se também que ele tinha adquirido a exclusividade dos direitos desses filmes,  com objetivo de deixa-los como patrimônio a sua filha. Pode ser. Lançados entre 1949 e 1958, os filmes que ele reteve foram os seguintes:

FESTIM DIABÓLICO”(The Rope/1948) Com James Stewart
JANELA INDISCRETA”(Rear Window/1954) Com James Stewart e Grace Kelly
O HOMEM QUE SABIA DEMAIS”(The Man  who knew too much/1956) Com James e Doris Day
O TERCEIRO TIRO”(The Trouble with Harry/1956) Com Shirley McLaine
UM CORPO QUE CAI”(Vertigo/1958) Com James Stewart e Kim Novak

Os Cinco Filmes que Hitchcock não quis relançar em seus recortes â época de seu lançamento original.
Hitchcock morreu antes de concretizar esse possível plano de reedição, mas assistindo esses filmes hoje, conforme apresentados em sua versão original, é difícil achar um jeito de melhora-los. Após a sua morte todos eles ganharam relançamentos nos cinema de todo o mundo e também no mercado de home-video que estava em pleno florescimento na época. O primeiro que ganhou um relançamento foi  JANELA INDISCRETA,  um antológico drama de suspense com Hitchcock fazendo jus a alcunha de mestre do suspense e dando uma aula de técnica cinematográfica, centrando a história em um “herói” imobilizado, onde através de sua janela gira toda a ação do filme. Em FESTIM DIABÓLICO, que foi seu primeiro filme em cores, ele filmou apenas 10 tomadas, para narrar toda a história do filme; Foram 10 tomadas de dez minutos cada. As passagens de cena ou cortes, foram realizadas por trás de colunas ou cortinas. Vieram na sequencia UM CORPO NO CAI, O TERCEIRO TIRO  e O HOMEM QUE SABIA DEMAIS, todos filmes inovadores em tramas e que exploraram novas técnicas cinematográficas. Será que o uso dessas inovações eram a razão de Hitchcock  desejar reedita-los?

James Stewart(1908-1997), astro em quatro deste cinco filmes, deu uma outra possível razão pela qual Hitchcock teria mantido inacessíveis ao público esses cinco filmes. Segundo ele, a razão foi um processo movido contra ele por um dos argumentistas de JANELA INDISCRETA, que obrigou o cineasta a gastar muito dólares e cujo o resultado não lhe foi favorável.

domingo, 2 de junho de 2019

ESPIRAL DE PAIXÕES

Em 1981, enquanto rolava a terceira temporada da famosa série de TV, CASAL 20 uma funesta coincidência abalou os bastidores da produção, atingindo principalmente o casal protagonista da série: Robert Wagner e Stefanie Powers. No dia 16/11/1981, William Holden, companheiro de Stefanie foi encontrado morto em sua casa, vitima de perda de sangue ocasionada por  um ferimento na cabeça, consequência de uma queda, após uma bebedeira. Exatamente 13 dias depois, em 29/11/1981, foi a vez de Natalie Wood, esposa de  Wagner, desde 1973, morrer  por afogamento, em circunstancias que podem ser consideras misteriosas.

Sefanie Powers  & William Holdem / Natalie Wood & Robert Wagner / Robert Wagner & Jill St. John / O CASAL 20, Robert Wagner & Stefanie Powers
William Holden(1918-1981) é considerado um dos expoentes da era de ouro em Hollywood e na época de sua morte mantinha um relacionamento afetivo com Stefanie desde 1975. Ambos eram ativistas pela proteção da vida animal e depois da sua morte Stefanie criou a William Holden Wildlife Foundation, com sedes na Califórnia e no Kenya, da qual Stefanie Powers, hoje com 78 anos, ainda é presidente. Junto com Robert Wagner, ela protagonizou a série CASAL 20(Hart to Hart/1979-1984), por cinco temporadas e 110 episódios. A série foi enorme sucesso em todo o mundo, inclusive no Brasil. Os dois faziam um casal de milionários sempre envolvidos em casos de assassinatos e espionagem; Ao lado deles o indefectível mordomo Max e o cãozinho Freeway.

Casal 20
Natalie Wood(1938-1981) foi, sem nenhuma dúvida, um dos rostos mais bonitos da galeria hollywoodiana. De atriz mirim(começou aos 5 anos) até a fase adulta, nunca perdeu o status de estrela. Aos 17 anos, recebeu sua primeira indicação ao Oscar por JUVENTUDE TRANSVIADA.  Wood e Robert Wagner, foram casados duas vezes; O primeiro casamento foi de 1957 a 1962, quando se divorciaram.  Em 1972, se casaram novamente, ficando juntos até a morte da atriz em 1981. Um fato curioso, mas nunca confirmado,  é que Natalie tinha muito medo de agua, porque uma cigana havia previsto a sua morte em circunstancias de afogamento e foi exatamente o que aconteceu. Ela estava em companhia de Wagner e do ator Christopher Walken,  a bordo do iate Splendour. Relatou-se que após uma violenta discussão entre Wagner e Walken, ela dirigiu-se ao convés e teria pego um bote para voltar a ilha de Santa Catalina. Ela não sabia nadar e pouco tempo depois foi encontrada morta, boiando, num local próximo ao barco.

Robert Wagner, hoje com 89 anos, começou  no cinema nos anos 50 e sempre se manteve em atividade, apesar de um pequeno hiato nos anos 60, quando fez uma ótima transição para a TV, produzindo e atuando em séries como SWITCH(1975-1978) e CASAL 20(1979-1984). Hoje, graças a investimento em ações, propriedades imobiliárias, patrocínios, etc..., o veterano ator acumula um patrimônio milionário. Em sua biografia “Pieces of My Heart”, ele admite o sentimento de culpa pela morte de Natalie, dizendo “quando você está casado com alguém você é responsável. Eu tenho pensado nisso mais de um milhão de vezes na minha vida...”.

Natalie Wood, Stefanie Powers e  Jill St. Jonh
Nesse espiral de estrelas chegamos a Jill St. John.  Stefanie Powers, Natalie Wood e Jill, se conheciam e eram amigas desde a escola de ballet, onde se conheceram. Jill, hoje com 79 anos,  conhecia Robert Wagner desde que tinha 18 anos e juntos apareceram em sete filmes e assim, concluindo esse espiral estelar , desde 1990, os dois estão casados. Mais um elemento prá esse espiral: Jill e Lana Wood, irmã de Natalie, estiveram juntas no filme 007-OS DIAMANTES SÃO ETERNOS, e não se dão bem até hoje. Inimizade nascida devido a durante as filmagens o ator Sean Connery manter um relacionamento com as duas ao mesmo tempo.