“NHÔ ANASTACIO CHEGOU DE VIAGEM”, filme de Julio Ferraz,
realizado em 1908, tinha apenas 15 minutos e foi o primeiro filme com enredo
realizado no Brasil; Narrava de forma engraçada as peripécias de um matuto
passeando pelo Rio de Janeiro. A partir desse ano, uma grande quantidade de
filmes “com enredo” começaram a chegar
as telas. Filmes americanos e europeus eram trazidos pelos exibidores e os
produtores nacionais começaram a investir em filmes de maior duração. Com 40
minutos, Giuseppe Labanca produziu OS
ESTRANGULADORES, que fez enorme sucesso chegando ao numero recorde de mais de
800 exibições. O sucesso desse tipo de filme levou a outras produções
similares, como A MALA SINISTRA de Julio
Ferrez, que foi baseado no famoso “crime da mala”, ocorrido em São Paulo, em
1908.
O sucesso desses filmes faziam do cinema uma mania e um
programa regular do publico. Os jornais passaram a ter sessões destinadas aos
filmes programados e expressões ligadas a essa nova arte tornaram-se comuns
entre a população. Sim, porque uma das grandes vantagens do cinema era seu
apelo popular, atingindo todas as faixas do povo. Mas a grande produção
nacional de filmes era quase toda concentrada no Rio de Janeiro( o maior
estúdio da época era o Guanabara Film). Já no final dessa sua primeira década
começou no Brasil, a se combinar as imagens com sons de um gramofone ou com
musicas executadas em um piano. Isso já era feito nos EUA e Europa. Surgiram por aqui, então, os “filmes
cantantes”, uma novidade onde os atores se escondiam atrás da tela e
acompanhavam com a voz os movimentos de falas de personagens. Isso fez com que
operetas como A VIÚVA ALEGRE, A GEISHA, A DANÇARINA DESCALÇA e SONHO DE VALSA,
alcançassem um enorme sucesso. Outros sucessos no gênero, foram sátiras ,
especialmente politicas, como O VIÚVO ALEGRE, O CHANTECLER, O COMETA e 606
CONTRA O ESPIROQUETA PÁLIDO.
Mas o maior de todos os sucessos no genêro foi PAZ E
AMOR(1910), que teve um total de mais de mil exibições; Isto porque era uma
sátira politica, envolvendo vários nomes proeminentes da época, principalmente
o recém eleito Presidente Nilo Peçanha, que prometera um governo de “paz e amor”.
Exibido no Cinematographo Rio Branco, do Rio, as vezes era preciso a intervenção da policia
dado ao grande afluxo de publico. Mas também já funcionavam, regularmente no
Rio de Janeiro, outros cinematographos: o Pathé, Avenida e Odeon. Como já chegavam
por aqui as grandes produções da Europa
e América, atores estrangeiros como Francesca
Bertini, Nielsen, Psilander e Maurice Costello, começam a se destacar na preferencia popular, onde
também se destacam os nacionais Benjamin de Oliveira, Mercedes Villa, Sonia
Veiga e Regina Fuina .
Alguns dos primeiros filmes com enredo: HEITOR ÉUM RAPAZ SÉRIO, FLOR DE CALÇADA, A TRÁGEDIA DE BELGRADO e A MÃO NEGRA |
No entanto se a partir de 1908, nunca se havia produzido
tantos filmes no Brasil, a partir de 1912 essa produção caiu drasticamente e
até por volta de 1922, a média de filmes por ano caiu para cerca de 12 filmes.
O que aconteceu? Em São Paulo, onde a
grande maioria dos filmes exibidos eram os feitos no Rio, o empresário Francisco
Serrador, resolve estender seus pontos
de exibição ao Rio de Janeiro e ao resto do pais e 1911 funda a Cia.
Cinematográfica Brasileira, que não tinha a produção nacional como seu
principal objetivo, mas sim a importação de filmes, visto que fora do Brasil, onde
o cinema havia já alcançado um nível industrial/cultural/tecnológico
infinitamente acima do que se fazia no Brasil. A Empresa compra então salas de
exibição em todo o pais com fins de organizar o caótico mercado exibidor
nacional. E isso dá muito certo, porque além de importar filmes para exibição em suas
salas, ainda reloca os mesmos filmes para outras salas. Proprietário da maioria
das salas e exibindo apenas o produto importado, isso prejudica enormemente a produção nacional. Em
um primeiro momento, o publico reage desfavoravelmente, mas a magia dessa nova
arte, cativa a publico, que em pouco tempo passa a conhecer e admirar os novos
astros de cinema que surgiam lá fora.
Mas, apesar de pequena, a produção nacional não estagnou.
Em 1914, foi exibido o primeiro filme com mais de duas horas de duração
produzido no país, intitulado O CRIME
DOS BANHADOS, do diretor português Francisco Santos, confirmando o sucesso da
moda dos filmes policiais, que teria ainda títulos como O CASO DOS
CAIXOTES(1912) e O CRIME DE PAULA
MATOS(1913). Em 1915, o cineasta Antonio Leal, construiu um estúdio
envidraçado(para aproveitar a luz solar) e produziu ali filmes como A
MORENINHA(1915) e LUCÍOLA(1916), baseados em grandes obras da literatura
nacional, iniciando a moda dos filmes literários, como O CAÇADOR DE
ESMERALDAS(Olavo Bilac) e OS MISTÉRIOS
DO RIO DE JANEIRO(Coelho Neto). A 1ª Guerra Mundial, em curso, foi ensejo para
a produção de filmes relacionados, como
PÁTRIA E BANDEIRA, LE FILM DU DIABLE e o primeiro desenho animado brasileiro, O
KAISER, do caricaturista Seth. Em 1912, talvez um primeiro ato de censura no
cinema brasileiro; A marinha impediu a exibição de um filme contando a história
de João Candido, o “almirante negro”, líder da chamada Revolta da Chibata,
acontecida em 1910.
(Principal fonte de pesquisa, Coleção Nosso Século,
publicada pela Editora Abril, em 1980 e História do Cinema Brasileiro-Edição
Circulo do Livro/1987, de Fernão Ramos)
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